Investigação liga ex-deputado Dr. Sinval Malheiros a líder da máfia da saúde

Política | 21/02/2022 | Por Redação

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Investigações da Polícia Civil e do Ministério Público em torno da rede de conexões políticas do médico e empresário Cleudson Montali, condenado a 200 anos de prisão por fraudes e desvios estimados em R$ 500 milhões da saúde pública por meio de organizações sociais, revelam mais um personagem da região de Rio Preto: o também médico e ex-deputado federal Sinval Malheiros (Podemos).

O ex-parlamentar, de Catanduva, é citado dezenas de vezes em conversas telefônicas grampeadas com autorização da Justiça. Há diálogos registrados entre Sinval e integrantes do chamado “núcleo de chefia” da máfia das organizações sociais.

Ao longo da última semana, detalhes de inquérito que originou a Operação Raio X vieram à tona, com menções ao presidente da Assembleia Legislativa, Carlão Pignatari (PSDB), e ao ex-prefeito de Catanduva e ex-deputado estadual Geraldo Vinholi.

Pignatari apareceu em grampos de 2019 sugerindo a Gleudson que assumisse a administração de hospitais em Santa Fé do Sul e Ferraz de Vasconcelos. As investigações tiveram início em 2018, mas o escândalo estourou em 2020.

O tucano divulgou nota na qual repudiou “a tentativa eleitoreira de associá-lo a condenáveis desvios de recursos da saúde pública, que tem o único objetivo de tumultuar as investigações em andamento”. Ele acionou a polícia de Araçatuba, que informou não ter inquérito instaurado para investigar o presidente da Alesp. Vinholi e Sinval também não são investigados.

 

Sinval Malheiros

Em uma das investigações às quais a imprensa teve acesso, interceptações listam, por exemplo, conversas entre Márcio Tizura, que foi condenado a 16 anos de prisão pela Justiça de Birigui no início deste mês, e Sinval. Também é mencionado pagamento de suposta dívida de campanha eleitoral em material apreendido com Marcio Takashi Alexandre, apontado pela Justiça como homem de confiança de Cleudson.

Neste mês, “Marcinho", como Takashi é chamado, foi condenado a 27 anos de prisão pela Justiça por envolvimento no esquema. Cleudson já soma duas condenações. Sinval surge como pessoa que manteve contatos com o grupo e que recebeu recursos por serviços prestados como médico.

"Pelos diálogos interceptados, verificamos que Sinval se utilizou de toda a estrutura de Cleudson para exercer sua profissão”, afirma trecho da apuração. Ex-assessor de Sinval também aparece nos documentos da investigação conduzida, a princípio, pela Polícia Civil de Araçatuba.

 

Assessor é citado

A Polícia Civil interceptou, em uma das investigações, conversas de Ricardo Bracale, assessor de Sinval Malheiros. Segundo a polícia, tanto Bracale quanto Malheiros mantinham relação próxima com Cleudson Montali e, conforme mostram diálogos telefônicos, “Bracale participa de vários encontros com membros da Orcrim (Organização Criminosa)”. Bracale teria passado a Márcio, um dos integrantes da organização que foram presos, a conta do próprio filho para receber depósitos.

Ele (Bracale) enviou ainda a Márcio a notícia da liberação de recursos de emendas parlamentares para Birigui e Pacaembu. O material foi incluído no inquérito na seção que apura o repasse de emendas parlamentares à organização criminosa. O ex-deputado da região e o assessor não foram localizados para comentar o assunto.

 

Juiz de Penápolis livra Sinval

O médico Sinval Malheiros, primeiro suplente na Câmara Federal pelo Podemos, chegou a ser qualificado, com identificação pela polícia, após ter o nome mencionado nas gravações realizadas em 2019. Ele ainda apareceu em material apreendido na operação, no qual são relatados pagamentos ao parlamentar por parte do grupo envolvido nas fraudes.

“As anotações indicam diversos pagamentos a inúmeras pessoas, entre elas consta o nome de Dr. Sinval como beneficiário de pagamento das quantias de vinte mil reais em uma anotação, além da quantia de mil e oitocentos reais em outra anotação com indicação que foi pago + 20 cirurgias”, afirma trecho da investigação policial. “Sinval, enquanto deputado federal, foi o responsável por aprovar diversas emendas parlamentares em favor das organizações sociais em questão”, consta na apuração da polícia de Araçatuba. A apuração é relacionada a OSs da Santa Casa de Misericórdia de Birigui e de Pacaembu.

Apesar da relação com Cleudson apontada pela polícia, em decisão de dezembro do ano passado a Justiça de Penápolis afirmou que Sinval não está entre os investigados. A decisão afirma que as autoridades não constataram a “existência de quaisquer indícios envolvendo Sinval Malheiros Pinto Júnior com os fatos investigados.” “O que há são meras menções a seu nome, o que é natural, porque ele é médico e prestava serviços como tal nas organizações sociais de saúde”, afirma a Justiça.

 

 

ENTENDA O CASO

 

Fase 1

A primeira fase da operação Raio X foi deflagrada em 2020, quando foram cumpridos 64 mandados de prisão, além e 237 de busca e apreensão no Estado de São Paulo. Ainda foram realizadas ações em outros estados, como em Minas Gerais, Pará, Paraná e Rio Grande do Sul. As prisões ocorreram em Penápolis, Araçatuba, Birigui, Osasco, Carapicuíba, Ribeirão Pires, Lençóis Paulista, Agudos, Barueri, Vargem Grande Paulista, Santos e Sorocaba.

Na ocasião, as autoridades apreenderam 20 veículos, três aviões, e R$ 1,2 milhão em dinheiro vivo. Na investigação, a organização criminosa foi dividida em vários núcleos: “núcleo político, núcleo empresarial, núcleo jurídico, núcleo chefia, núcleo administrativo e núcleo lavagem de dinheiro”.

No início deste mês, em novo desdobramento do caso, a polícia fez buscas na casa de Márcio França, ex-governador de São Paulo pelo PSB e pré-candidato do partido nas eleições deste ano.

 

Operação Raio X

Organizações Sociais: Deflagrada em 2020, a Operação Raio X foi aberta pela Polícia Civil de São Paulo e pelo Ministério Público do Estado para  “desmantelar um grupo criminoso especializado em desviar dinheiro destinado à saúde mediante celebração de contratos de gestão entre municípios e Organizações Sociais (OSs)”.

Operação S.O.S.: Em setembro de 2020, a Polícia Federal deflagrou a Operação S.O.S. – desdobramento da Raio X. A ofensiva realizou buscas no gabinete do governador Helder Barbalho (MDB), no Palácio dos Despachos. A Procuradoria-Geral da República informou, na época, que as apurações que começaram com a Polícia Federal no Pará “foram robustecidas por material compartilhado pela Polícia Civil de São Paulo”. Em janeiro deste ano, o pré-candidato ao governo paulista pelo PSB, Márcio França, foi alvo de buscas e apreensão na operação.

 

Condenação 1

Em agosto do ano passado, um médico e outras sete pessoas foram condenadas por desviar cerca de R$ 500 milhões em verbas da área da saúde de cidades do interior paulista. A decisão foi da 1.ª Vara da Comarca de Penápolis, localizada a 476 km de São Paulo.

 

Condenação 2

Em dezembro, a Justiça de São Paulo condenou mais 11 denunciados. As penas por corrupção passiva, lavagem de dinheiro e  participação em organização criminosa ultrapassam nove anos de prisão.

 

São Paulo

Segundo as investigações, os envolvidos no esquema teriam atuado em Barueri, Penápolis, Birigui, Guapiara, Lençóis Paulista, Ribeirão Pires, Araçatuba, Mandaqui, Guarulhos, Agudos, Santos, Carapicuíba,  Sorocaba e Vargem Grande Paulista.

 

Outros Estados

O esquema de desvios de dinheiro público também teria ocorrido em Patos, na Paraíba; em Araucária, no Paraná, e em Capanema e em Belém, ambas no Pará.

 

Fonte: Diário da Região
Por: Viníciuis Marques

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